1 Alguns conceitos
A fim de auxiliar o entendimento da obra disponibilizamos alguns conceitos que abordarão os estudos, sem os quais, por certo que, causará algum percalço ao leitor mesmo que esteja familiarizado com a Cabala.
1.1 Vontade x desejo
Nos trabalhos cabalísticos há uma grande confusão quando se trata da Vontade e dos desejos, principalmente quando se trata do Mundo de Briah, que também é chamado Mundo dos desejos. A percepção equivocada pode desmoronar todo o entendimento cabalístico de modo que a inteligência e a sabedoria não venham a trabalhar adequadamente por estar mal alicerçada.
A Vontade é um atributo de Kether, de nosso Real Ser, está ligada a Unidade, onde tudo e todos é “Um”, ao passo que o desejo provem do ego, de Malkut de baixo e para baixo, refere-se ao indivíduo, é criado por este.
A Vontade refere-se a um animo, impulso interior que nos leva a realização com firmeza, com a certeza de estar ancorado em uma força maior, sem fim, objetiva, concentrada e por isto é de natureza ativa ao passo que o desejo provem de um elemento isolado, limitado, sua atuação é passiva de aderência, mórbida, sem resistência.
A Vontade é o Amor que a tudo arrebata, torna livre, realiza; o desejo é a paixão que aprisiona, limita, destrói, implode.
1.2 Ego, personalidade e essência, Real Ser.
1.2.1 Ego – eu superior e eu inferior
O ego é tido como um subproduto da natureza animal, trata-se de uma coagulação energética gerado pelos nossos desejos, impulsos passivos, as paixões que nos escravizam, e do mesmo modo que ocorre com os fractais, as imagens holográficas onde cada parte possui a informação do todo (“distributividade”). Assim, o ego representa um clone de seu criador, com as mais diversas informações sobre o mesmo, inclusive a inteligência, mas com a especialidade do impulso energético, do defeito psicológico que lhe deu origem (trataremos mais sobre este tema).
Sua manifestação corre em contrapartida aos arquétipos e centro de energia que temos em nossa constituição e, na forma compreensível humana, dentro de nossa esfera de conhecimento, o vislumbramos como defeitos ou disfunções psicológicas como: o desenfreio sexual, ira, gula, vaidade, avareza, preguiça, inveja, arrogância, prepotência, etc.
Algumas escolas tratam de um ego positivo e outro negativo, eu superior e eu inferior. Ocorre que ambos os casos são duas facetas do mesmo ego, duas formas de manifestação.
A exemplo de ego bom e superior citemos dois exemplos:
1 – Uma pessoa passa a elogiar tanto o certo quanto o errado a fim de agradar, conseguir a aprovação. Pois temos aí o ego bonzinho que elogia e o ego ruim que critica e então resta a pergunta: Onde está a verdade? Em todos os casos a pessoa está preocupada consigo mesma com sua imagem, etc.
2 – Em outro caso uma pessoa e assaltada por um latrocida estuprador e tendo a oportunidade de neutraliza-lo a fim de evitar outras mortes e danos, não o faz por que deseja ser considerada uma pessoa boa – deste modo o criminoso estupra e mata. Neste caso a pessoa também está mais preocupada consigo mesma – talvez em não ir para o inferno por ter matado outra pessoa, de modo que preferiu sacrificar seus entes queridos a fim de ir para o “céu”.
Em todas as situações o ego trabalha rumo ao individualismo, ao abismo, tudo é voltado para si mesmo.
1.2.2 Ser, Real Ser
De outro lado temos o Ser, e nos deparamos com nossa verdadeira identidade, aquilo que somos realmente daí a junção Real e Ser.
A primeira definição de “Ser” conhecida na história vem do antigo testamento quando Moises questionou a natureza de Deus, o criador dos pais de seus pais… então o Ser supremo lhe responde:
Êxodo 3:14 “EU SOU O QUE SOU”
Em filosofia, lógica, reza-se que na definição não se deve conter o definido. Então não podemos dizer: Casa e casa, prego e prego, etc… Contudo quando tratamos do Ser nos deparamos a única exceção à regra que nos permite dizer que O SER É O SER.
O Ser não está preso aos conceitos de tempo é espaço, contudo como estamos na terceira dimensão onde o tempo ainda é utilizado afirma-se que O SER É, FOI E SERÁ, contudo, refere-se exclusivamente a um mero conceito euclidiano adaptado a realidade humana.
Na árvore percebemos que o Ser ocupa a coroa, o topo, onde a Unidade e a Multiplicidade se confundem, portanto, está relacionado a todos dos Multiversos sem limites de modo que definir o Ser equivale a aprisionar o infinito no finito, o Universo em um copo d’água sem um buraco negro que o aglutine.
De nosso Real Ser provém a Vontade que é ativa. O desejo (passivo) provem do ego. Quando a Vontade (ativa) aprisionada pelo desejo (passivo) dizemos que nossas tendências (nossa disposição natural; inclinação, vocação) são prisioneiras do ego ao qual passamos a servir e fornecer nossa energia vital e com isto o ego vai se tornando cada vez mais robusto e no astral sua aparência vai se tornando horripilante – um verdadeiro retrato de Dorian Gray. Mas o que causa maior terror não é sua aparência e sim sua energia abismal, a vibração tétrica que emite, que faz tremerem os mais valentes até que um dia o indivíduo se dê conta da situação e, por um impulso que vem do alto, adquira o valor interno para o enfrenta-lo cara a cara na terrível prova do guardião do umbral, pois o ego que nos aprisiona cerra a passagem para os mundos superiores, nossa evolução.
Em nosso Ser Interno, nosso Real Ser encontra-se nossa identidade verdadeira, nosso âmago, cerne, aquilo que somos realmente, o mais puro e verdadeiro que há em nós, mesmo que ainda não tenhamos a consciência, o entendimento do que seja, mas queremos saber, termos a consciência e chegarmos a Unidade.
O programa de vida de cada pessoa tem relação direta com o seu Real Ser, que apesar de ter todo o conhecimento envia uma contraparte de si mesmo a descer pelos planos e vivenciar o conhecimento. Algumas pessoas têm muita sede de conhecimento, de experiencias então a partir daí deduz-se que seu Ser Interno busca o mestrado, muito embora o Ser já seja um mestre completo, o que se aduz é a experiência, a vivência do que já se sabe em razão do compartilhamento da Unidade.
Neste caminho a experiência nos é concedido o livre arbitro dos atos iniciais, e como se trate de adquirir o conhecimento os efeitos, mesmo que desconfortáveis, acabam por serem suportados.
“O Ser não nasce, nem morre, nem se reencarna, não tem origem, é eterno, imutável, o primeiro de todos e não morre quando matam o corpo.” – Versículo 20, Capítulo II – Bhagavad-Gita;
Difere, pois, do ego que nasce, morre.
1.2.3 Essência
Essência é a energia da consciência que tem sua sede na sexta dimensão também chamada de mundo causal. Se observarmos Tiphereth perceberemos que é a ponta de um triangulo (Triangulo Ético) reflexionado da ponta de um triangulo superior (Triangulo Logoico) que chamamos Kether.
É bela porque possui natureza crística, daí as palavras do Kabir Jesus:
Mateus 19:14 Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais, pois delas se constitui o reino dos céus.
Também é chamada de Alma, mais precisamente Alma Humana que a princípio é livre, mas que tem sido aprisionada pelo ego. Quando criamos o ego lhe fornecemos energia – afinal nada se cria sem energia – e este carburante vem justamente da alma. A alma é o Gênio da lâmpada de Aladim e a garrafa é o ego que aprisiona a energia anima.
Todos temos uma parcela de energia inicial que corresponde a algo em torno de 3% (três por cento). Não deve ser confundido com a capacidade de utilização do cérebro que a ciência tem atribuído em uma variável de 3% a 10%.
Energia é o grande carburante do mundo físico, mas também o é para as operações no mundo espiritual, para se adentrar aos mundos precisamos ter a energia e as vibrações adequadas para cada plano.
Quando a essência, a alma fica aprisionada no ego não temos a energia para realizar os trabalhos, a Vontade se torna débil na razão inversamente proporcional aos desejos. Por intermédio de trabalhos conscientes, padecimentos voluntários (sacrifícios crísticos – Sahaja Maithuna) podemos conseguir mais energia até se chegar aos 100%.
Mas não basta ter mais consciência, é preciso desperta-la, dar o choque para que se torne ativa e isto é feito com as mais variadas práticas como a concentração, meditação, desdobramento astral consciente, etc.
1.3 Invocação e evocação.
Nos conceitos esotéricos a invocação se faz quando nos colocamos em comunhão com as pulsações a que pretendemos entrar em contato.
Por outro lado, quando pretendemos que as forças se façam presentes, inclusive as entidades, então utilizamos o processo da evocação que deve ser um pouco mais elaborado, com a preparação dos quatro elementos e o conclame a forças específicas para a constituição do ambiente de modo que nada saia do lugar. É provável que ocorram fenômenos incomuns durante estas operações, embora nem todas as pessoas disponham das virtudes necessárias para notar quando se manifestam de maneira mais brandas.
Como estamos tratando aqui de forças superiores, em regra não há com que se preocupar embora em qualquer atividade se recomende no mínimo traçar o círculo de proteção já que as forças vêm sempre aos pares, ou seja, mesmo que evoquemos uma força positiva, sua contraparte estará ativa em razão de uma Lei natural.
Cumpre lembrar que estes Arquétipos são portadores de grande poder e, portanto, capazes de nos livrar das energias abismais conforme dispõe os textos tradicionais:
““Lucas 10:1 E, depois disto, designou o Senhor ainda outros setenta (e dois também) e mandou-os adiante da sua face, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde ele havia de ir.
Lucas 10:17 E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os diabos se nos sujeitam. ”
1.4 Vida, existência, reencarnação
Pelo conceito tridimensional temos entendido que a vida se refere a um tempo que se inicia a partir do nascimento e se conclui no momento da morte.
Contudo aqui estamos tratando de um conhecimento que vai além do tempo e do espaço, de modo que haveremos de considerar a vida como anterior ao nascimento e posterior a morte física.
Se a vida for tomada como um continuum que ultrapassa os limites do nascimento e morte então este interstício deve ser considerado sob a ótica de um outro termo já que se refere a uma fração do que a constitui efetivamente.
O período ora compreendido pode ser considerado então como uma manifestação em determinado tempo e espaço sob uma roupagem daquilo que chamamos de corpo físico. Em uma relação de ato e potência a manifestação compreende a existência, pois trata da conclusão do ato que, até então, antes do nascimento, era mera possibilidade – um potencial não manifesto.
Deste modo havemos de considerar a existência como a manifestação da vida no interstício que compreende a geração e a corrupção do veículo de expressão no plano físico até que firme sua meta de não existência, posto que, uma das Leis que regem este mundo é o da precariedade, transitoriedade, dessarte, tudo o que é constituído aqui em algum momento há de se sucumbir, deixa de existir.
Em suma, podemos considerar a vida como o conjunto de existências, de manifestações no plano físico bem como fora deste.