Por estes dias peguei um avião em João Pessoa (Pb) com destino a Campo Grande (MS) com conexão (neologismo à baldeação dos ônibus) em Brasília (DF).
Na hora do embarque chamaram as pessoas portadoras de necessidades especiais, gestantes, idosos, deficientes mentais e outros afins.
A fila ficou com mais de 50 metros.
Acreditem, sobrou minha pessoa, minha consorte e um senhor sentado em frente a nós que comentou:
– Está grande, a fila dos necessitados especiais!
Havia inclusive um candidato a Governador e três outros políticos na fila.
Então começamos e tentar entender quem eram as grávidas, os idosos, os deficientes mentais…
Depois foi a fila dos que se sentariam no fundo do avião.
É que se colocassem primeiro os da frente iria barrar o caminho para os do fundo e o embarque demoraria mais.
A fila ficou quase do mesmo tamanho e tivemos a impressão que não fora vendido passagens para o lado da frente ou os passageiros ainda não tinham chegado.
Alguém deve ter benzido a fila da frente, pois ninguém queria ficar lá…
Queriam a fila das poltronas do fundo.
Então pensei: Sou um cara de sorte, tenho o bilhete premiado…
Ao descer em Brasília o piloto disse com aquele vozeirão típico:
- Portas em manual.
Imediatamente levantou-se quase todos os passageiros e foram para os corredores e ficaram em pé ali por cerca de dez a quinze minutos.
Os que não conseguiram ficar em pé no corredor ficaram em pé em suas poltronas mexendo o pescoço para aliviar o torcicolo.
Ocorre que em uma situação normal os que estão na frente saem primeiro abrindo o caminho para os que estão atrás.
Mas no presente caso todos queriam sair ao mesmo tempo usurpando o direito de quem está mais a frente e o resultado foi aquela muvuca no corredor.Um tropeçando e se esbarrando no outro, se travando mutuamente.
Parecia desespero de um avião que estava em chamas prestes a explodir.
Como de costume fico sentado esperando o tumulto passar. Mesmo porque os que vem atrás – vem numa velocidade… – como quem está na via principal de uma rua e para entrar no corredor haverá com certeza uma colisão.
Após passar o último passageiro, em poucos segundos pego minha bagagem de mão e com a maior calma do mundo desço para pegar as malas.
Vou apreciando a paisagem desde o alto da escada do avião, caminho sob aquele vento, que vem sem a resistência dos prédios e encho gostosamente os meus pulmões com ar.
Ando tão calmamente como quem está em um passeio no bosque.
Mas quando chego ao saguão adivinhem só com o que eu me deparo?
Aquele bando de otários que estavam em pé no avião, agora, estão todos em volta do carrossel das bagagens se acotovelando esperando sabem o que?
Trazerem as malas e ligarem a esteira!!!
Então procuro um lugar para sentar e espero até que aqueles que estão com o intestino solto peguem sua bagagem e liberem um pouco de espaço.
Enquanto isto vou dando tchauzinho e um abraço simbólico àqueles que me aguardam do lado de fora.